O isolamento social modificou as relações entre pais, professores e estudantes. As aulas, agora mediadas pelo uso da tecnologia, modificaram a rotina em todos os níveis de ensino.
Para compartilhar os relatos dos envolvidos, surgiu o projeto “Escola em quarentena: um registro antropológico de memórias educacionais”. Em um grupo no Facebook, os alunos, as famílias e os educadores podem publicar narrativas sobre os impactos na educação durante a pandemia de Covid-19. A iniciativa é de Juliane Bazzo, pesquisadora e professora do Departamento de Antropologia da UFPR; da contadora de histórias e mediadora de leituras Mana Lucena Suarez; e da professora da rede estadual do Ceará Kelli Schmiguel.
Os relatos mostram as dificuldades de adaptação ao ensino remoto frente à adequação dos conteúdos para ensino à distância, ao manejo da tecnologia e à rotina doméstica.
A maior parte dos depoimentos são de mães com crianças na rede pública de ensino. Ainda assim, na opinião da equipe, a amostra pode não refletir a totalidade da situação, pois não considera aqueles que não possuem computador ou Internet para partilhar suas vivências. “Isso só dá evidência a uma questão extremamente crítica e grave nesse momento: a desigualdade social, pois há muitas famílias com dificuldades de continuar em contato com suas comunidades escolares pela exclusão digital”, ressalta Juliane.
No futuro, a ideia é que o projeto saia da rede social, para democratizar o aprendizado coletivo na forma de memória educacional, como explica a professora da UFPR: “O certo é que exploramos frentes de ensino, pesquisa e extensão, nas quais todas as administradoras do projeto estão mais ou menos diretamente envolvidas”.
O público pode enviar relatos de maneira livre, por escrito, com fotos, vídeos e áudios. Os testemunhos também podem ser anônimos, se a pessoa assim desejar, uma vez que postagem e a visualização das narrativas se darão mediante aceitação de ingresso no grupo.
O material forma um diário coletivo, que ajuda a trazer soluções em condições extremas como a pandemia, conforme explica Juliane: “Ao criar esse espaço de memória, espera-se que as pessoas se inspirem e se apoiem mutuamente, ainda que haja distância física. Desse modo, poderemos refletir sobre o passado, pensar o presente e imaginar coletivamente um futuro pós-pandemia para a escola e para a educação”.
O grupo do Facebook está vinculado ao blog de divulgação científica Primavera nos dentes – Ensaios sobre a escola e a realidade brasileira. No espaço, há conteúdos específicos sobre coronavírus e educação, com links para sites e artigos relacionados ao tema.